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Pessoas que inspiram: Marcio Saiki, fotógrafo e professor de fotografia no Japão

Entrevistamos o Marcio Saiki para falarmos um pouco sobre a fotografia e as aulas que ele ministra no Japão. O Saiki foi meu professor de fotografia, e com ele aprendi muita coisa sobre composição, técnicas, equipamentos, direção e percepção na hora de fotografar.

Ele nos contou um pouco sobre sua experiência com a fotografia, compartilhou algumas fotos tiradas por ele, e deu algumas dicas para quem busca se profissionalizar nesta área.

1- Dia a Dia: Gostaríamos de saber como foi o seu primeiro contato com a fotografia.

Saiki: Eu desde pequeno viajei muito com meus pais e avós. Sempre me interessei pelas imagens, mas não era muito de ficar com a câmera na mão, pois meu avô que sempre tirava as fotos. Diz a minha mãe que desde bebê eu adorava a tv, ficava mudo assistindo por horas a fio, não importando com o que estava passando. Quando viajávamos ficava olhando pela janela do carro ou do ônibus… acho que ainda fico (risos). Assim aprendi a tal da composição. Aprendi a fotografar bem cedo, mas sempre fui muito tímido e calado, tinha muito medo de me expor e por isso ninguém sabia. Fotografar e revelar eu aprendi de curioso, de ficar perguntando, “enchendo o saco” das pessoas, mas eu era ruim, ruim mesmo. Tive que treinar bastante até ficar razoável.

Crédito: Juliana Anzai

2- Dia a Dia: Sabemos que a fotografia é uma área com muitos ramos para serem explorados, como, por exemplo, retratos, publicidade, paisagem, eventos entre outros. Com base na sua experiência, qual é o melhor ramo para ter um retorno financeiro no mercado japonês?

Saiki: Não sei se é a maneira certa entrar nesse ramo pensando em retorno, mas pode dar certo. Pense como um hobby. Pense em fazer algo que goste e veja se realmente gosta. Porque o que mais tem é: gente que fala que ama, mas não é tão “verdade” assim. Depois escolha o ramo que mais tenha a ver com você, quem quer ir para publicidade tem que entender muito de publicidade, é claro. Uma vez fui fotografar um campeonato de Jiu-jitsu, mas não entendo nada disso, as fotos ficaram horríveis, lamentáveis! Mas serviu para o jornal. Acho que o jornalismo é legal para aprender, tem que ser muito ágil, tem que se comunicar, compor bem imagens e ser bem preciso nos cliques. Você pode fazer 100 cliques, e só um ficar bom.

Crédito: Marcio Saiki

3- Dia a Dia: Como foi surgindo as oportunidades de trabalhar com a fotografia no Japão?

Saiki: É uma longa história, mas resumindo eu fui fazendo freelancer para jornais e revistas. Aí um dia, decidi abrir um estúdio com outros amigos. Do estúdio começamos a ministrar workshops, só queríamos mostrar algo novo, e que fosse divertido, mas o estúdio durou pouco mais de um ano. Um dos meus amigos foi embora para o Brasil, e os outros acabaram desistindo. Na verdade, só eu levava aquilo como uma profissão, pois os outros trabalhavam em fábrica. Eu vivia um dia após o outro, mas agradeço muito o companheirismo deles, nunca esqueço de Felipe, Kem e Rodrigo.

4- Dia a Dia: Gostaríamos de saber um pouco sobre o processo de aprender outras línguas e o quanto esse aprendizado lhe permite fazer conexões com as pessoas do mundo inteiro.

Saiki: Minha mãe me pagava vários cursos, alguns eu terminei, outros não. Eu até fiz datilografia, sabe o que é isso? (Risos). Nós fazíamos curso para digitar rápido sem olhar no teclado. O curso de inglês eu adorava, acho que acabei quando tinha 13 ou 14 anos. Já o japonês eu aprendi conversando. Quer dizer, todo mundo aprende conversando, mas para mim “aprender” sempre foi fazendo amigos. Meu nível é de uma criança, mas eu disfarço bem… dou até aula em japonês.

A língua nunca foi barreira para mim, já viajei para lugares que eu não entendia nada, e ninguém me entendia, mesmo assim foi tranquilo. Acho até que gosto de ir para lugares assim. Comprei um estilingue na Tailândia de um menino que mora numa aldeia, foi difícil negociar, ele não queria vender, mas vendeu e nos divertimos bastante.

Crédito: Marcio Saiki

A molecada quis me mostrar um lugar com uma vista incrível. Nem fotografei, guardo só na memória. Saber inglês te coloca numa zona de conforto, te limita a ficar dentro do hotel ou na companhia do guia turístico, eu sempre fujo disto. Profissionalmente eu uso bastante japonês e inglês. Trabalho numa empresa que tem mais de 400 filiais pelo mundo, uso bastante mesmo. Leio muito livro e informação em inglês e também assisto TV japonesa.

5- Dia a Dia: Quais são as áreas que um fotógrafo profissional pode atuar?

Saiki: Ah, são muitas… social, jornalismo, moda, publicidade, arte, documental, educação, paisagens, banco de imagens… é muito amplo.

Crédito: Marcio Saiki

6- Dia a Dia: Hoje você ensina muitas pessoas a arte de fotografar. Gostaríamos de saber qual é a sensação de compartilhar seu conhecimento e descobrir novos talentos.

Saiki: Eu amo ensinar, ensino tudo o que posso dentro da fotografia, mas gosto mesmo é de arte, principalmente as histórias da arte. Não dá para entender a obra sem entender o artista. Dê uma olhada no quadro do Van Gogh com a orelha enfaixada, a história da briga com o Gauguin resulta naquele quadro, mas olha o quadro que está na parede, é japonês. Incrível não? Quanto aos novos talentos, eu me orgulho muito deles, cada turma tem um, sempre me orgulho de dar o máximo de mim e ver que a maioria também dá o máximo de si. Às vezes aprendo mais do que ensino, sou muito grato pelas oportunidades que tenho.

7- Dia a Dia: Analisando o cenário atual, a popularização das redes sociais e dos aparelhos celulares, tudo isso marca um aumento no consumo da fotografia digital, e consequentemente o ato de tirar fotos se torna parte do cotidiano. Você acha que essa popularização acabou desvalorizando o trabalho do fotógrafo profissional?

Saiki: Pelo contrário, tenho certeza que valorizam mais um bom profissional. O que acontece é que tem muito profissional. Na lei de oferta e procura, quando a oferta aumenta, o valor cai. Claro que tem bons profissionais, e outros nem tão bons, mas tem cliente para todo tipo de público e todas as rendas. Eu escolho o que faço, tem coisa que faço até de graça, e outras nem pagando eu faria.

Crédito: Marcio Saiki

8- Dia a Dia: Uma curiosidade que muitas pessoas têm, é sobre o processo de estudar fotografia. Como funciona a dinâmica das aulas?

Saiki: Eu acho interessante ver o aprendizado de cada aluno, ver a evolução. Então, prefiro turmas não muito grandes, até 12 alunos eu dou conta. Cada um tem uma velocidade de aprender, uns são mais focados na didática, outros, na prática. Eu divido a aula em parte teórica e prática. Aí eu vou pincelando com outros assuntos e temas. Hoje na escola, o curso básico dura 20 aulas de 3 horas, mas o ideal seria mais umas 4 aulas. Antigamente dávamos em 12 aulas, era corrido, mas quase todos os alunos faziam depois os cursos avançados, aí no total passava das 24. Formava melhor o pessoal, dava mais rodagem. Hoje pouca gente procura o avançado.

Crédito: Juliana Anzai

9- Dia a Dia: A fotografia vai muito além de “congelar” um momento, uma vez que, além da parte técnica, envolve muitas histórias e sentimentos. Gostaríamos de saber qual foi a foto que você mais gostou tanto do resultado quanto da memória.

Saiki: Ah, eu gosto de várias! Desde a que eu tirei de um mendigo, até a do primeiro-ministro japonês. A primeira das minhas filhas também tem espaço reservado. Mas vou contar a história de duas. A primeira é esse por do sol lindo em Bagan. Este local fica em Mianmar, no meio de um semiárido. Subi uma construção, tipo uma pirâmide, para fazer essa foto. Só esqueci de levar uma lanterna e a bateria do celular acabou. Fiquei lá até a noite cair e já não havia ninguém. Quando resolvi voltar, tive que ficar tateando o labirinto interno do local até achar a saída.

Crédito: Marcio Saiki

A segunda é um nascer do sol.

Crédito: Marcio Saiki

10- Dia a dia: Para finalizar, quais conselhos você daria para quem busca se profissionalizar e adquirir um diferencial como fotógrafo?

Saiki: Estudar bastante e produzir muito. Porque produzindo se aprende. Eu adoro fotografar com câmeras de filme, acho bom conhecer sobre revelação laboratorial, dá uma base mais sólida mesmo para quem só usa digital. Se você focar naquilo que gosta, isto já é o seu diferencial.

O Saiki também está com um novo projeto de fotografia analógica, revelação de filmes e as técnicas de ampliação no papel. Se você tiver interesse, entre em contato com o Saiki pelo Instagram: saiki_maru

Relato dos alunos de fotografia do Saiki:

Crédito: Juliana Anzai

“Estava sentada ao seu lado no trem, e o mundo lá fora passava pela janela como se víssemos um filme acelerado em uma TV. Saiki entre uma conversa e outra olhou para janela e disse “se você focar em algum objeto parado ao fundo, verá que tudo ao redor dele parecerá estar em movimento, exceto ele. É só uma questão de percepção do momento e do objeto, assim é a fotografia”. Assim também é a vida, pensei sem dizer nada. Ele com certeza não percebe as lições que ensina até quando não está dentro da sala de aula, percebi naquela conversa o quanto a fotografia é uma metáfora, impermanente e relativa”- Juliana Anzai.

“Ele me ensinou a ser pontual e sempre lembrar da técnicas para fazer uma fotografia. Ele também ensinou que quando for fotografar alguma coisa, é sempre bom pesquisar antes, para poder absorver bem o que se está fotografando” -Luciano Kido.

“O que eu aprendi sobre a fotografia… é que não basta ter uma boa máquina e sair por aí fotografando. E sim guardar um momento único, uma lembrança. É criar uma memória através de imagens” -Regiane Yamamoto.

REDES SOCIAIS:

Facebook: Marcio Saiki

Instagram: saiki_maru

Créditos da foto de destaque: Juliana Anzai

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