‘Simplesmente não consigo parar’: o vício em pornografia está se tornando um problema sério no Japão

Embora uma grande quantidade de tráfego para o site de pornografia mais visto do mundo venha do Japão, os efeitos do conteúdo adulto na Internet raramente são discutidos no país. No entanto, o vício está se tornando um problema sério, com 5,7% dos estudantes universitários em um estudo de 2021 dizendo que este causa problemas em suas vidas diárias.

A exibição excessiva de pornografia foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma forma de doença mental, e pesquisas sobre o problema estão sendo realizadas nos países ocidentais. Apesar de seu perfil discreto no Japão, as pessoas estão finalmente começando a reclamar dos vícios em pornografia online.

Uma dessas pessoas foi um homem de 20 anos que visitou uma clínica psiquiátrica em Kamakura, na província de Kanagawa. “Continuo assistindo pornografia na Internet. Quero parar, mas não consigo”, queixou-se. A exibição excessiva de pornografia estava afetando sua vida diária, obrigando-o a repetir um ano na universidade que frequentava.

O diretor da clínica, Hiroyuki Ide, que examinou o homem, apontou a semelhança do vício em pornografia com outras dependências: “Sua forma é a mesma da dependência de álcool e drogas”, explicou Ide. “É preciso tratar a doença com foco na dificuldade de viver que o paciente tem no fundo do coração, onde está a raiz da dependência.”

Por outro lado, Ide também sente que existem dificuldades exclusivas desse tipo de vício. “A realidade é que qualquer um pode assistir pornô facilmente”, disse ele. “O aspecto característico da dependência é que, com um único clique, o desejo por um estímulo mais forte aumenta. É um problema que não vem à tona facilmente, mas potencialmente muitas pessoas estão sofrendo com isso.”

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A OMS divulgou uma Classificação Internacional de Doenças (CID-11) revisada em 2018, acrescentando uma nova categoria de “distúrbio de comportamento sexual compulsivo”. O uso excessivo de pornografia online e outras atividades que interferem na vida diária estão incluídos nesta categoria, marcando a primeira vez que o hábito foi reconhecido como um transtorno mental.

Em 2019, o Japão foi responsável pela segunda maior quantidade de tráfego para o site adulto mais visto do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

Em meio a essa situação, Daisuke Ito, professor associado de psicologia clínica especializado em terapia cognitivo-comportamental na Hyogo University, e Yushun Okabe, pesquisador especial da Japan Society for the Promotion of Science, estão conduzindo estudos de escala sob o assunto.

Os dois cientistas conduziram uma pesquisa com 1.011 homens e mulheres adultos no Japão em 2022 e descobriram que 7,3%, ou 74 pessoas, tinham hábitos problemáticos, fazendo comentários como: “Tentei parar, mas continuei assistindo“. Das 74 pessoas, metade apresentava sintomas sugestivos de transtornos mentais graves, como disforia (mudança repentina e transitória do estado de ânimo, tais como sentimentos de tristeza, pesar, angústia).

Uma pesquisa com 150 estudantes de ambos os sexos que frequentam universidades por um período de quatro anos no Japão, realizada em 2021, constatou que 5,7% dos alunos não conseguiam controlar o hábito de assistir vídeos adultos em graus variados, causando problemas em suas vidas diárias.

Ito declarou: “Ver pornografia em si é uma atividade que muitos indivíduos praticam e é diferente das drogas ilegais, cujo mero uso é ilegal. No entanto, os resultados da pesquisa mostram claramente que um certo número de pessoas é incapaz de parar de assitir pornografia, afetando suas vidas.”

Okabe comentou: “Dado que o comportamento sexual compulsivo foi identificado na CID-11, talvez seja hora de considerar seriamente o fornecimento de suporte. A pornografia online é muito mais acessível do que a pornografia convencional e o conteúdo é ilimitado, portanto pode ser visualizado infinitamente. Gostaria que as pessoas consultassem um conselheiro ou um médico em um hospital antes que a situação se torne mais grave.”

Imagem: Canva