Todos os japoneses serão “Sato” até 2531 se o Japão mantiver a exigência de sobrenome único para casais

Uma simulação feita pelo centro de pesquisa da Universidade de Tohoku mostrou que todos os japoneses terão o sobrenome Sato até o ano de 2531 se o Japão continuar exigindo que os casais possuam apenas um sobrenome.

A simulação foi organizada pelo Think Name Project, fundado conjuntamente pela associação geral incorporada Asuniwa, que trabalha para legalizar o sistema seletivo de sobrenome separado no Japão.

Por que o Japão exige que os casais tenham apenas um sobrenome?

O Japão é o único pais do mundo que exige que os casais compartilhem um único sobrenome. Esse sistema obrigatório foi introduzido há 120 anos.

*Os sobrenomes diferentes entre os cônjuges só é permitido para casamentos internacionais.

No Japão, um dos cônjuges é legalmente obrigado a trocar o sobrenome ao se casar. A lei que vigora até os dias atuais surgiu de uma tradição estabelecida durante a Era Meiji (1868- 1912), mas um número crescente de pessoas diz que a legislação está desatualizada e não acompanha as mudanças sociais.

Essa estrutura de sobrenome único reflete uma mentalidade patriarcal que está profundamente enraizada na sociedade japonesa. Ela também reforça a disparidade de gênero, com a ideia de que “os maridos trabalham fora, enquanto as mulheres protegem a casa”, visto que em 95% dos casos, são as mulheres que acabam trocando para o sobrenome do marido.

Muitas mulheres que precisam mudar o sobrenome para o do marido sentem uma perda de identidade, enfrentam obstáculos em suas carreiras, principalmente aquelas que trabalham em organizações internacionais.

Nos últimos anos, a pauta sobre sobrenomes separados para casais foi discutida no parlamento japonês, porém quase todas as tentativas foram interrompidas nas fases iniciais do debate, grande parte devido à forte resistência de políticos mais conservadores.

Os principais oponentes à questão acreditam que a flexibilização dos sobrenomes entre casais “enfraqueceria os laços familiares”, “facilitaria o processo de divórcio” e “causaria efeitos prejudiciais aos filhos”.

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O que acontecerá se o Japão mantiver o sistema de sobrenome único entre casais?

Segundo Hiroshi Yoshida, líder do estudo e professor do Centro de Pesquisa para Economia e Sociedade Idosa da Universidade de Tohoku, “Sato” é o sobrenome mais comum no Japão.

*No ano de 2023, 1,529% dos japoneses tinham este sobrenome.

O professor pensou em dois cenários: um onde o Japão mantivesse o sistema de sobrenome único para casais e o outro onde o país introduzisse um sistema de sobrenome seletivo e separado.

Yoshida utilizou dados disponíveis em um site que fornece informações relacionadas aos nomes, com base em estatísticas governamentais e listas telefônicas. Observando a tendência do sobrenome Sato, o professor calculou a proporção da população japonesa com este sobrenome e a taxa de crescimento estimada.

Os cálculos de Yoshida mostraram que, no sistema atual que exige que os casais compartilhe o mesmo sobrenome, a proporção da população japonesa com o sobrenome Sato aumentou 1,0083 vezes de 2022 para 2023.

Segundo Yoshida, se a taxa de crescimento permanecer constante e os casais com sobrenome Sato continuar a aumentar ano após ano, mais da metade da população japonesa terá este mesmo sobrenome até o ano de 2531.

Se o declínio populacional do Japão continuar no ritmo atual, restarão apenas 22 pessoas em 3310, mas se um sistema de sobrenome separado for introduzido, a diversidade dos sobrenomes dos japoneses será mantida até que a população deixe de existir.

“Simpatizo com o objetivo deles de colocar em número as questões relacionadas ao sistema seletivo de sobrenome separado (…) Se todos se tornarem Sato, talvez tenhamos que ser tratados pelos nossos primeiros nomes ou números. Não acho que podemos chamar isso de um bom mundo para viver”, acrescentou Yoshida.

Imagem de destaque: Canva